Ponto G: pesquisa descobre como polvos fazem sexo no escuro total

Pesquisadores da Universidade Harvard desvendaram o mecanismo químico que permite ao polvo-macho localizar a abertura reprodutiva da fêmea em absoluta escuridão: o hectocótilo, braço especializado copulador, detecta progesterona dissolvida na água com precisão de milímetros. A descoberta, disponível como preprint no bioRxiv, resolve um enigma que se arrastava desde os primeiros registros de acasalamento à distância em cefalópodes, animais cuja visão é praticamente nula nas profundezas oceânicas. O achado não apenas explica como espécies como Octopus bimaculoides garantem o sucesso reprodutivo em ambientes sem luz, mas também revela um canal de comunicação química entre machos e fêmeas anteriormente desconhecido.

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O estudo partiu de observações comportamentais em cinco pares de polvos-da-califórnia mantidos em aquários com divisória perfurada. A barreira impedia a visão e o contato corporal direto, permitindo apenas a passagem de braços. Mesmo assim, os machos inseriam o hectocótilo pelos orifícios e localizavam o oviduto da fêmea com taxa de acerto de 100 %. Para testar a hipótese química, o grupo isolou células sensoriais do hectocótilo e as expôs a uma biblioteca de esteroides; apenas progesterona desencadeou resposta de cálcio, indicando ativação do receptor. Ensaios de imunohistoquímica mostraram que a densidade de neurônios quimiotácticos no “superbraço” é três vezes superior à dos braços comuns, configurando um órgão sensorial dedicado. Como limitação, todos os experimentos foram conduzidos em cativeiro com animais adultos já sexualmente maduros; não foi possível quantificar a concentração mínima de progesterona necessária nem verificar se a sinalização varia ao longo do ciclo reprodutivo feminino.

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Análises comparativas ampliaram a relevância evolutiva: hectocótilos amputados de lulas e de outras espécies de polvos reagiram à progesterona com contrações rítmicas, sugerindo que o receptor é conservado entre cefalópodes. A ausência de resposta visual, confirmada por ensaios com luz infravermelha, reforça que o sistema é puramente químico. Curiosamente, fêmeas não receptivas reduzem a liberação de progesterona e podem contrair o esfíncter do oviduto, bloqueando a entrada do espermatóforo—uma possível via de escolha sexual por parte da fêmea. O laboratório agora mapeia o perfil completo de receptores expressos no hectocótilo para verificar se outros metabólitos hormonais também participam da sinalização.

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