O salto de 15,4% no lucro líquido da Caixa Econômica Federal no 3T25, para R$ 3,8 bilhões, confirma o setor de habitação como o principal vetor de crescimento do banco e, por extensão, da economia real. Com a carteira de crédito encerrando setembro em R$ 1,334 trilhão – alta de 10,3% em doze meses –, o presidente Carlos Vieira declarou que “a habitação é a maior alavanca para geração de emprego no país”. Para empresas de construção, materiais, incorporação e serviços correlatos, o recado é direto: enquanto outras linhas de financiamento patinam diante da taxa básica em dois dígitos, o crédito imobiliário com subsínio governamental continua a escalar, criando demanda antecipada por fornecedores e mão de obra local.

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Operacionalmente, o ciclo beneficia-se de três alavancas internas. Primeiro, o aumento do ROE para 11,93% reduz a pressão por spread elevado, permitindo que a Caixa abra mais espaço nas faixas de renda mais baixa – hoje, 63% dos novos contratos estão abaixo de R$ 350 mil, faixa em que a margem operacional é compensada pelo volume. Segundo, a instituição está usando a sua base de depósitos compulsórios em poupança (54% do total) para alongar o prazo das operações, mitigando o risco de descasamento de prazos que assombra bancos privados. Terceiro, o banco estatal acaba de autorizar o uso de garantias de até 20% do valor do imóvel por meio de letras imobiliárias, instrumento que libera capital para novas operações sem elevar o endividamento no balanço. Para empresas que vendem para o mercado de novos lançamentos, isso significa menor dependência de caixa próprio e menor necessidade de desconto de recebíveis.

O mercado reage com duas dinâmicas paralelas. Na ponta de varejo, a oferta de unidades na planta voltou a crescer 8% no acumulado de 2025, segundo o Secovi-SP, mas a concentração permanece nos metros com renda familiar superior a R$ 7 mil – segmento menos dependente de subsínio. Na ponta de materiais, as vendas de cimento, aço e revestimento já reverteram a queda de 2024, com alta de 6% no terceiro trimestre, puxada por obras de até quatro andares financiadas pela Caixa. O risco regulatório, porém, permanece: qualquer redução do teto do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) ou atraso na correção do subsínio habitacional pode comprometer o fluxo de novos contratos. Além disso, a escalada do déficit público já levou o Tesouro a sinalizar um corte de R$ 12 bilhões no orçamento de 2026, linha que pode tocar programas como o Casa Verde e Amarela.

Para investidores e empresários, a aposta está em posicionar-se na cadeia de valor que o banco estatal não consegue — ou não quer — operar. Start-ups de tecnologia em inspeção remota de obras, fintechs de garantia de aluguel e plataformas de comercialização de crédito imobiliário secundário captaram R$ 1,4 bilhão em venture capital no ano, triplicando o montante de 2022. Do lado de risco, a Caixa mantém 68% da carteira de crédito com prazo acima de 15 anos, expondo o balanço a eventuais ciclos de alta de juros longos; se a curva de prêmio de risco subir 100 pontos-base, o impacto no valor justo dos ativos chega a R$ 4,5 bilhões, segundo simulação interna do banco. Em contrapartida, a instituição tem R$ 130 bilhões em imóveis retomados — estoque que pode ser vendido em leilões eletrônicos para injetar liquidez sem pressionar preços de mercado.

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