Estreando nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 26 de novembro, Morra, Amor chega como uma das obras mais comentadas da temporada. Destaque da programação do Festival de Cannes 2025, o longa-metragem é a mais recente realização da cineasta escocesa Lynne Ramsay, conhecida por seu estilo visceral e narrativas intensas, como em Precisamos Falar sobre Kevin. Baseado no romance homônimo da escritora argentina Ariana Harwicz, o filme é estrelado por Jennifer Lawrence e Robert Pattinson, que interpretam um casal em crise. Com produção executiva de Martin Scorsese, Morra, Amor mergulha nos limites emocionais da maternidade, do casamento e da identidade, oferecendo uma experiência cinematográfica crua e intimista que dialoga diretamente com o público contemporâneo.
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A direção de Ramsay se destaca pela capacidade de traduzir estados psicológicos em imagens densas e sensoriais. Em Morra, Amor, ela utiliza planos fechados, cortes abruptos e uma trilha sonora desconcertante para refletir o turbilhão interior da protagonista, vivida por Jennifer Lawrence. A atriz entrega uma performance contida e ao mesmo tempo explosiva, construindo uma personagem em conflito com o papel de mãe e com as expectativas sociais impostas ao feminino. Robert Pattinson contracena com intensidade, interpretando um marido presente, mas distante, cuja própria fragilidade emocional contribui para o desgaste do relacionamento. O roteiro, adaptado fielmente do livro de Harwicz, mantém o tom poético e brutal da obra original, com diálogos que oscilam entre o cotidiano e o existencial. A fotografia de Tom Townend, colaborador frequente de Ramsay, utiliza paletas de cores frias e iluminação natural para reforçar o clima de isolamento e tensão.
O filme aborda temas universais como amor, perda, solidão e transformação, mas o faz a partir de uma perspectiva feminina e desassossegada. A crise pós-parto vivida pela personagem central não é apenas um tema médico ou social, mas um ponto de partida para uma reflexão mais ampla sobre o desejo, o corpo e a subjetividade. Ramsay evita o melodrama, optando por uma narrativa fragmentada, quase onírica, que exige atenção do espectador. Morra, Amor não oferece respostas fáceis nem redenção explícita; ao contrário, propõe uma imersão na ambiguidade das relações humanas. A montagem não linear e o uso de sons ambientes como elementos narrativos reforçam a sensação de desconforto e instabilidade. O longa dialoga com obras como Repulsa (1965), de Roman Polanski, e A Mulher que Mordeu o Cão (2020), no modo como coloca em cena a dissolução da identidade feminina a partir de uma crise doméstica.
Sem recorrer a truques de suspense ou reviravoltas, Morra, Amor constrói sua tensão a partir do cotidiano, dos gestos repetidos, dos silêncios carregados. O filme é uma experiência sensorial e emocional, que prioriza a atmosfera sobre a ação, a introspecção sobre o conflito explícito. Jennifer Lawrence, em um dos papéis mais desafiadores de sua carreira, abandona a postura heroica de franquias como Jogos Vorazes para mergulhar em uma personagem vulnerável, instável e profundamente humana. Robert Pattinson, por sua vez, continua sua trajetória de escolhas de papéis complexos, distanciando-se do estigma de Crepúsculo e consolidando-se como um dos atores mais versáteis de sua geração. Com Morra, Amor, Ramsay entrega mais uma obra que desafia convenções narrativas e formais, reafirmando seu lugar entre as vozes mais potentes do cinema contemporâneo.